OURIVES E PRATEIRO
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José Carlos Castro praticamente cresceu na bancada de trabalho dos avós e dos pais, ourives de profissão em Gondomar, terra do ouro. Da juventude recorda a calçada fora de casa, onde funcionava a oficina, imaginando que era garimpeiro à procura de pedacinhos de ouro reluzente na pedra molhada, fragmentos de luz que mal se notavam a não ser no cabelo dos empregados, que à força de tanto neles passar a mão suja do trabalho, reuniam ao fim do dia umas escassas milésimas de tesouro dourado. 
 
Com 16 anos, o talento já se pressentia, diluído na paixão pela música, por Bob Dylan, pelo Woodstock e o verão do amor. Por estes dias transformava fivelas de cintos gravando placas com nomes e simbologia de grupos de música, que os amigos muito cobiçavam. Quando voltou da tropa, da Guiné, o pai proporcionou-lhe as condições para dar continuidade à tradição familiar num percurso independente como ourives. Se as criações paternas não ultrapassaram os sete modelos ao longo da vida, o portefólio de José Carlos conta hoje com 12 mil referências diferentes. Sinal dos tempos e da sensibilidade estética associada a uma maior abertura às tendências de moda, mas sobretudo reflexo de um processo intuitivo que move toda a criatividade, alternando entre períodos contemplativos e outros de intensa produção. 
 
Na década de 70 alimenta o hábito de visitar as grandes feiras de ourivesaria mundiais e começa a ver as suas peças apresentadas nas melhores joalharias do país. Nos anos 80 e 90, período áureo da ourivesaria em Portugal, José Carlos consolida um corpo e uma linguagem de trabalho invulgar patenteando um considerável número de modelos de malhas. Foi neste período que se tornou pioneiro na combinação de pedras e materiais.
 
Daqui resultam criações inconfundíveis em ouro, prata e pedras semi-preciosas, fruto de um universo recheado de paixões, da pop art à música, da cultura pré-colombiana à fotografia. Esta última, uma arte que o acompanha a par da ourivesaria, não só como fotógrafo amador como um dos maiores coleccionadores de máquinas fotográficas Leica. Entre a composição fotográfica e o grafismo das jóias nasce um paralelismo que justifica a posição dos elementos numa fusão improvável entre arte e técnica.
 
Bruta, orgânica, quase arcaica, esta é a obra de um dos grandes nomes da ourivesaria portuguesa, cuja visão acabaria por influenciar toda uma geração de ourives.

(texto: Revista ATITUDE)